quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Momentos e Questionamentos...



                                     CAPITULO VII

            Quando eu era pequena, eu amava demais meu pai, eu era o moleque da casa, e no lugar de meu irmão, eu fazia às vezes do filho que adorava acompanhar o pai em tudo. E ele se orgulhava disso também, me levando a todos os lugares e me apresentando com todo orgulho aos amigos. Tudo o que eu queria ele me dava e fazia, uma vez, por nos irmos muito a sítios, eu inventei que queria um cavalo, pois eu só podia andar quando íamos a alguns sítios de finais de semana, e já que ele sabia que eu adorava, ele comprou uma égua pra mim!! Coloquei o nome dela de Charlotte, e ela era linda, eu quase morri de alegria. Meu pai era demais comigo! Claro, Charlotte nos proporcionou um pouco de tudo, pois ela não um animal muito adestrado e pra ela fazer aquilo que eu queria, que era andar e passear comigo, eu teria que chicoteá-la e, isso pra mim é o fim, pois eu amo animais e se você quiser um dia brigar comigo, maltrate um animal na minha frente. Com isso, Charlotte não andava de jeito nenhum, e teve uma até uma vez que eu e meu primo fomos ate onde Charlotte ficava e com a sela nas costas, né, pois íamos a pé, e chegando la, nem conseguimos sela-la, pois ficamos com receio, já que eu nunca o tinha feito sozinha, ai depois de muito se divertir com nossa idiotice, volta os dois burros com a sela nas costas pra casa!risos..
Teve uma Festa do Peão em Americana, que ainda é tradicional na cidade, e eu inventei de que iria ao desfile de cavaleiros com a Charlotte, e lá vai meu pai combinar com seu amigo de que eu iria com ele, pois ele poderia me ajudar no caso de algum imprevisto. Meu pai iria nos acompanhar com o carro. No caminho onde havíamos marcado encontrar com outros cavaleiros, havia uma ladeira e foi descendo essa ladeira que a Charlotte escorregou e foram as duas para o chão... eu e a égua! Ela caiu em cima de minha perna, porem não machucou, apenas ficou dolorida, e Charlotte graças a Deus, estava bem, mas, eu, com meu coração todo compadecido por ela ter caído e talvez estivesse com dor...não quis mais ir ao Desfile. Meu pai ate insistiu mas acabou por concordar e voltar pra casa. Mas eu não iria montada, pois coitada da Charlotte, me levar ainda pra casa no lombo, depois de tal queda...?Jamais eu disse a meu pai! Pois eu fiz meu pai ir devagarzinho com o carro e com o bração pra fora puxando a Charlotte pela corda ate em casa!! Ele no mínimo quis me matar. Teve uma outra oportunidade em que eu estava indo pra casa com Charlotte e era uma distancia considerável e no meio do caminho, meu pai atrás com o carro, ela empacou. Não havia meios de ela andar, e meu gritando la do carro; bate nela Claudinha!! Eu...Claudia Casati Mantovani....batendo na minha éguinha??? Ahahaha...ele desceu do carro bravo e disse, leva o carro que eu vou levar a égua! Meu pai era um homem de 120 kilos naquela época e a cena dele na égua foi no mínimo um tanto divertida, e onde morávamos todos, absolutamente todos nos conheciam por nosso próprio pai. Os caras gritavam assim pra ele; Vai matar a égua Claudião!!!....
Nem vou dizer que daquele dia em diante, nos decidimos por forças maiores, vender Charlotte! Meu pai e eu...bem, ele quase me matou de novo! Risos
Como ele era cliente assíduo de bares, eu sempre tava com ele e no meio de todos os seus amigos. E desde pequena eu bebericava suas bebidas e eles se divertiam vendo que eu gostava. E sabem, naquela época, eu achava horrível, pois cerveja era amarga, pinga era o cão de ruim...mas como eles riam, e ele mais ainda, e eu percebia um certo orgulho nos olhos dele, eu bebia mesmo. Isso em custou caro quando eu cheguei à adolescência, fato que comentarei mais adiante. Eu ate banho tomava com meu pai quando era criança...tamanha era nossa relação. Ele era meu ídolo e eu, sua fã numero um.Ele era um cara que brigava com minha mãe quando ela ia fazer compra e gastava demais, sendo que ela só tinha comprado o básico, e aos sábados ele ia ao mercado e comprava só o supérfluo tipo, bebidas, latarias, frios e carnes...e gastava mais do que minha mãe em um mês de alimentos! Mas ainda assim, era minha mãe que gastava demais na opinião dele. Eles nos acostumaram muito mal em termos de alimentação, pois tínhamos do bom e do melhor, palmito era uma coisa que todo mundo ama em casa pois sempre tinha. Uma vez ele chegou com um vidrão de palmito, tipo de Itu mesmo, sabem...e outra vez ele chegou com um pra cada de nós! Nossa, éramos ricos, muito ricos em alimentação, saúde e caráter. Carne em casa era um freezer ate a porta, sempre cheio, ele ia e matava um boi com alguns amigos e um quarto era nosso. Peixe...meu pai gostava muito de pescar e pelo menos três vezes por ano ele ia pescar pra longe e ficava 20 dias fora. Trazia caixas e mais caixas de isopor com peixes enormes, pintados, ate jacaré ele trouxe!Eles viajavam numa caminhonete e levavam ate freezer pra trazer os peixes. Ele amava pescar! Viajávamos sempre para praias e ficávamos 15 dias, íamos pra Cardoso, interior de São Paulo e ficávamos mais 20 dias lá. Ele nunca poupou esforços pra nos dar uma vida com luxo e regalias. Nos dias de hoje, se eu pedisse grana pra ele pra sair, ele ma daria 50 reais e amanha, novamente, era uma vida boa e muito bem aproveitada.Em uma de nossas viagens pra Cardoso, ele levava seu barco e motor, e ia pescar no meio do rio, pois haviam galhos de arvores pra fora da água que os pescadores ancoravam seus barcos pra pescar, e era o ponto do peixe, pois era bem ao meio do rio, fora da correnteza, o Rio Grande, e ficávamos bem na divisa de Minas Gerais e São Paulo, permitindo-nos ver todo um horizonte de água e verdes. Era lindo e tranquilo, adorávamos ir pra la, e eu principalmente, pois eu amava pescar e meu pai me lavava no barco com ele, e um dia, levantamos cedo, ainda eram 6 da manhã e lá fomos nós para o rio pescar, só eu e ele. Ficamos lá o dia todo e quando precisávamos fazer um xixi básico, pulávamos na água... e depois voltávamos para o barco. Isso numa profundidade de mais ou menos 18 metros. Mas ele confiava em mim, e nele também, e quando chegaram outros pescadores, uma família de uma cidade próxima a nossa, eles ficavam estupefatos de nos ver ali, desde cedo, com o barco cheio de corvinas e toda hora pulando na água pra mija!risos...Voltamos nesse dia somente quando o sol estava se pondo. Eram maravilhosos meus dias com meu pai, eu o amava tanto, nos dávamos tão bem. Só tinha uma coisa que me incomodava nisso tudo; ele sempre rotulava seus três filhos, sendo o Marcelo o filho inteligente; a Andréa a filha mais linda; e eu...a tranqueira! Isso me incomodava muito e como sempre ouvi isso, fui aceitando e vestindo esse rotulo de incapaz, feia e tranqueira. Hoje sei que não era no mal sentido que ele usava suas palavras, na verdade, hoje sei que ele queria dizer que eu era igualzinha a ele. Mas eu não sabia e fui consentindo que meu ego se afundasse nessa crença!Uma noite fomos num restaurante, como na maioria dos Sábados acontecia, e na volta, ele estava bem alterado e “simpático” na bebida e minha mãe na onda dele também, e eu pedi pra vir dirigindo, o que sempre acontecia, eu era novinha, mas desde os 11 anos eu fazia isso e eles sabiam que eu me dava bem no volante e adorava quando eles me deixavam fazer isso. No caminho pra casa, demos de cara com um comando da PM e nossa, foi um pânico, pois já não era mais possível desviar, e muito menos trocar de motorista, já que estávamos a menos de 100 metros deles. Meu disse assim; “Vai Inha,(era assim que minha família me chama), segue como se nada tivesse acontecido”...como??...eu estava com medo, porem, segui e os guardas chegaram a abaixar a cabeça pra dar uma olhada em mim, e viram meu pai, minha mãe e meus irmãos todos nos carro, mas eu era a criança do carro e tava no volante! Mas, não sei se na boa fé, pois pode ter percebido que não era nada demais e ou que meu pai tava meio alterado, mas os guardas nem pararam nosso carro! Foi muito bom!Ah, quase me esqueço, quando eu tinha uns 10 anos, meu pai nos deu uma Mobillete, aquelas motinhas bem vagabundas que antigamente era como motos...e nossa, eu e meus irmãos andávamos o dia todo, pois em frente de casa, antes de ser uma praça, era um campo de terra e não tinha nada...dividíamos assim, cada um dava três voltas na quadra e ai, era a vez do outro. E quando os três já haviam andado começava novamente no outro. Só parávamos pra por gasolina que ficava num galão nos nossos pés mesmo, la na rua. Hoje penso em como os vizinhos daquela quadra não devem ter sofrido...Mas o fato é que era uma delicia e nos passávamos o dia lá nos divertindo. Teve um dia, claro, sempre comigo que acontecia os fatos mais hilários, senão, chocantes...eu sai de casa pra atravessar a rua e andar no campo que ficávamos em frente de casa, e como eu nuca fazia isso, sempre eram meus irmãos, naquele dia eu quis sair eu com a Mobillete, e não deu muito certo, pois bem na hora que eu desci da calçada de casa pra passar a rua, eu olhei bem em minha frente e estava uma vizinha minha lá do outro lado onde eu subir. Eu me desesperei, sei lá por que, talvez por que eu era uma apenas uma criança, e em vez de parar e esperar, eu acelerei ainda mais!! Acabei que atropelei a mulher, claro, nada grave, só pegou a perna dela, mas pultz, que susto, e claro, eu fui pro chão e levei o maior fumo de meus irmãos e depois de  meus pais...Enquanto isso na escola, eu tinha dificuldades que já mostravam que aquela vida um tanto atormentada, refletia em tudo e todos, e tive problemas que me levaram a desgostar cada vez mais de estudar. Tive uma,professora que se chamava Walquiria, uma senhora de idade já avançada e que sofri de problemas de audição. Ela tinha o péssimo habito de bater nos alunos com uma régua de madeira daquelas de 60 centímetros e às vezes ate lançava o apagador na cabeça de um. O fato e que ela resolveu usar de seus métodos em mim e me bateu com a régua, o que me fez levantar imediatamente de minha carteira escolar e me dirigir ate a diretoria. Eu tinha apenas oito anos e cursava ainda a dois serie, o que não me impediu de ir reclamar meus direitos, pois eu já era uma criança que em mim predominava a bandeira do “basta à agressão por tudo o que vivia em família, e ainda teria de suportar uma atitude monstruosa em minha opinião de uma pessoa estranha que, nenhum direito exercia sobre mim, senão o de me passar uma educação literária e por que não dizer, ate mesmo de postura ética e humanitária, já que educação é um doas passos mais importantes na vida de um cidadão...A diretora não desconfiara de mim quando relatei os fatos e não me proibiu de ir embora naquele dia mais cedo pra casa, pois me recusei a voltar na mesma sala com aquela pessoa que me agredira sem pensar em seus atos. Chegando em casa relatei o ocorrido a minha mãe que se tornou uma fera, como onça defendendo a cria e no dia seguinte, seguiu comigo pra escola, decidida a tirar tudo a limpo com a direção e a professora. Isso mais uma vez me custou caro na vida, pois chegando lá, a diretora nos acompanhou ate minha sala de aula onde conversando com a tal professora na porta desta, ela se virou pra todos os alunos de minha sala e perguntou em voz de indignação a todos os presentes; Imagina, algum dia aqui eu bati ou gritei com algum de vocês nessa sala de aula??”, no que todos, com medo de buscar suas dignidades talvez ate mesmo pelo fato de não serem criados e educados pelas suas famílias de forma que devessem sim se expressar e estar sempre do lado justo da vida, todos recusaram o direito legitimo de autoproteção e negaram todos que um dia, aquela mulher havia feito algo de irregular que fosse contras ate as leis da natureza. Naquele momento ela se virou pra mim e pra minha mãe dizendo que eu não era uma de suas melhores alunas que ela deveria pensar em uma possível indicação pra uma classe especial pra mim, onde estudavam crianças com dificuldades mentais de aprendizados. Queria afundar sob aquele chão e nunca mais sair de lá, o que me impediu ainda mais de ser tudo o que poderia ser uma criança em seu aprendizado e ciclo normal de vida. No prezinho também, tive alguns problemas a enfrentar, não com a professora, mas com meu medo de ficar sem minha mãe e já que minha avó morava a uns 40 metros dali, eu fugia de vez em quando pra casa dela, alegando que não tinha mais aula, coisa que ela sabia muito bem lhe dar e acabava por me convencer a voltar. Mas tinha lá um cidadãozinho, cujos cabelos eram ruivos e ele todo sardentinho, que nos primeiros dias de aula a mãe dele tinha que assistir junto dele, pois ele não ficava sem a presença da mãe um segundo sequer de seus dias. E foi comigo que ele, criança esta que não consigo em recordar seu nome, acabou se deixando levar pra uma amizade que eu jamais esqueci, e espero do fundo de meu coração que este menino se lembre de mim o quanto me lembro dele. Pois foi comigo que ele começara a sentar e tentar um meio de proximidade e comunicação, e com isso, sua mãe aproveitava sua distração e seguia pra sua casa, saindo escondida dele sempre, ate que ele percebia e começava a chorar, mas nossa amizade começava a se concretizar nesses momentos, onde com a ajuda da nossa professora, ele se entregava as brincadeiras e tarefas que nos eram passados e se envolvia comigo nestes. Envolvimento tamanho, que eu ia ao banheiro, ele me acompanhava ate a porta, não entrando por que era proibido, senão o faria com certeza. E quando era a vez dele ir ao banheiro, era minha vez de acompanha-lo, pois sozinho ele não ia. Tudo o que você imaginar que se pudesse fazer num pré, nada ele fazia se não fosse ao meu lado. Na dança da quadrilha de São João todos escolhiam seu par e eu cultivava o sonho de escolher o Fabinho, que era um menino do qual eu gostava muito e adoraria dançar com ele, porem, eu não tive a chance de escolher nenhum, pois meu par já estivera formado desde que aquele sujeitinho grudento (risos) me escolhera como sua companheira de tudo ali. Mas não me queixo não, lembro-me dele e dos fatos com saudades e pra sempre vou tê-lo registrado em minha memória e coração, e também em minhas fotos que registraram pra sempre este nosso momento. O meu pré-escola foi-me uma historia que nunca me esqueço, pois tínhamos a Tia Jura que era a cozinheira e fazia um peixe em molho uma vez na semana que ate hoje me lembro e sinto água na boca, e nunca comi algo que chegasse aos pés daquele prato maravilhoso, fora que a Tia Jura era nossa mãe lá, pro nossos medos, nossos receios e era demasiadamente doce aquela mulher! Nessa mesma época, meu tio Vladimir morou uns tempos em minha casa, pois havia montado um açougue em Americana e minha tia e primos juntamente dele moravam em São Bernardo do Campo, onde ficaram toda a vida. Meu tio ia pra lá aos fins de semana e durante a semana, meu pai me levava ao pré e meu tio me buscava, já que seu açougue era próximo dali. Sendo assim, eu que sempre fui muito apegada aos meus tios, tias e primos, em minha cabecinha de leão, tamanho era meu raciocínio emocional, queria almoçar um pouco com minha vozinha Ophelia que tanto amava, junto de minha tia Regina que depois do almoço sempre jogava dominó comigo ate que meu tio chegasse e não poderia deixar de comer um pouco com meu tio, pois eu o amava de paixão, pois ele era o cara que sempre brincava com a gente em tudo durante sua estadia em casa. Então, eu almoçava um pouco com minha avó e tia, e um pouco com meu tio em casa, e acreditem , eu tinha essa disposição diária...  já que minha preocupação era em dividir minhas atenções entre aquelas pessoas que eu tanto amava. Inclusive o time que torcemos ate hoje, o Corinthians, foi a relação intima que tínhamos com meu tio Vladimir, que também é corinthiano.
Eu sempre fui uma criança ativa e arteira demais, e andava de skate e patins todos os dias, que me fazia ir ao chão diariamente, numa dessas quedas fraturei a clavícula direita, mas em qual das quedas que ocasionou eu nunca descobri, já em um tempo pequeno de dois dias eu tive três quedas violentas, uma de patins, uma de skate e uma da rede na chácara de meu tio, onde meu irmão me balançava e eu pedia com mais força e ele me atendendo, em um determinado momento, a rede deu uma volta de 360 graus,e claro, eu fui direto a solo, nocauteada!risos... Mas sempre tive muitos ferimentos e adorava um curativo e ficar doente, pois assim, hoje eu sei, eu tinha atenção, não que eu não tivesse, mas era uma forma que eu encontrara de me expressar. Levei varias vezes alguns pontos da testa, já que eu teimava em entrar de bicicleta na oficina do meu pai onde eu acaba por atropelar algumas grades que caiam sobre mim, me ferindo.   
E assim, foi parte de minha infância, o que falarei mais em capítulos seguintes. O que me passa agora é que precisa ficar claro que meu pai era o homem que eu mais amei nessa vida e era meu tudo enquanto eu era apenas uma criança. E digo...foi uma boa amizade a nossa!!
             O fato é que quando eu cheguei à ascendência da infância pra adolescência, eu comecei me questionar por que meu pai era tão especial comigo e na rua e em casa, ele batia em minha mãe e nos fazia sofrer tanto??....
            Resolvi perguntar pra ele e assim o fiz;
           
“Pai, por que na rua e comigo você é tão bonzinho e em casa, você bate na mãe ??”

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Minha pior Luta




                                         CAPITULO VI

            Aos meus 24 anos aproximadamente, eu era mais minha mãe do que eu mesma, e no fundo...eu era ou queria ser mais mãe do que minha própria mãe. Distanciei-me de meu pai pois ele era um exemplo de atitudes e os sentimentos que me causavam o que eu não queria pra mim. Tudo o que me preocupava era minha mãe e sua felicidade e a isso eu doava minha vida e todos os meus sentimentos. Sofri e me cobrava por não poder fazê-la feliz e tira-la daquela vida de agressões e dor. Eu escolhi pegar o problema deles pra mim, crendo que seria possível fazer minha mãe feliz.... e acabar com tamanho sofrimento. Meus estudos já estavam comprometidos, pois a chance que eu tive de fazer aquilo que me colocava no caminho da veterinária que era meu sonho, era um curso técnico que desisti no meio do caminho, pois não suportava a idéia de ficar longe, já que estudava em outra cidade e não me era possível estar presente dia-a-dia com ela. Bebia com meus amigos e a vida pra mim era me divertir com eles bebendo e fazendo-os rir pra esquecer o quão era difícil viver o que eu vivia em meu interior. Meus trabalhos nunca deram muito certos também, pois em alguns, eu deixei por que minha mãe saiu de casa duas vezes pra deixar meu pai e eu tinha que cuidar da casa, e não me lembro se alguém de minha família me impôs isso, mas eu escolhia isso e abandonava minha vida. Nas duas vezes ela voltou e aceitou a promessa de que meu iria mudar e tudo seria diferente. Houve uma terceira vez e que cometi o pior dos crimes que eu poderia ter cometido comigo e contra eles...Eu exigi de minha mãe que ela escolhesse entre eu ou ele, pois não o queria mais por perto. No fundo eu o amava, mas nem eu mesma já sabia disso, pois exteriormente, eu o odiava por tudo o que ele fazia contra minha mãe. Na minha cabeça, minha mãe era a única vitima disso tudo e ele...o vilão. E em meio a tudo isso, eu me fazia de vitima de tal fato e na rua, de maneira inconsciente, eu me fazia feliz e engraçada a tudo e a todos, era a melhor das companhias pra todos, amigos, família de amigos e no todo, eu era a palhaça da roda! Contava piadas, bebia com todo mundo, era simples e em todo lugar eu me dava bem, pois eu me adaptava a qualquer ambiente e pessoas, e o que eu estava fazendo, sem ter consciência, era usar mascaras pra ser aceita de alguma forma...pelos outros e por mim mesma!Por que ali.. naquele momento.... a Cláudia...já não existia! Quanto a meu pai, eu era o calo do sapato dele, em tudo eu o reprovava e ele também sempre me machucava quando podia, pois nossa relação não podia ser pior. Eu batia de frente com ele e nas brigas, eu o enfrentava e muitas vezes apanhava, e ate piorava a situação deixando-o mais irritado e fora de si, mas eu também ficava fora de mim, e era como se eu fosse sua esposa e apanhasse dele. Costumo dizer que minha mãe apanhava todos os dias, e quem ficava com os hematomas era eu...pois ela aceitava e no dia seguinte, mesmo machucada e humilhada, ela se levantava e seguia seu dia, e muitas, senão milhares de vezes, eles ficavam bem entre eles, e eu...bem, eu ficava cada vez mais ferida e com ódio de tudo isso...Aos 24 anos de minha vida eu comecei a perceber que estava tudo errado e sabem de uma coisa...eu sentia falta de meu pai.E também estava cansada de me mostrar feliz pra tudo e todos e na verdade...ser uma farsa. Era isso o que eu era...uma farsa!Fiz terapia durante seis anos e na verdade não me serviu pra nada, pois eu tentava enganar a psicóloga que eu estava enxergando as coisas e repetia sempre a mesma coisa a ela, acho que ela não me suportava mais, e sua linha de trabalho era daquelas que o psicólogo não abre boca, sabe, e você é quem tem de falar e conduzir as sessões e poxa, aqui entre nós, eu achava um porre! Mas imagino que ela foi quem mais cansou de tudo isso e achava insuportável, pois quem em sã consciência aguenta uma menina rebelde e cheia de traumas que quer dar uma de “eu sou F...”, ou devo dizer esta palavra?Foda....?risos...Mas, ela me foi ótima, pois hoje eu vejo que ela fez por mim que ninguém mais poderia fazer...somente eu mesma...respeitar-me! Dedico essas linhas a ela, que se chamava Nadia, uma grande amiga! E mesmo contudo,eu ainda olhei pra mim e consegui ver apenas um inseto insignificante...sim! Era assim que eu me sentia...um misero inseto vagabundo e sem utilidade nenhuma, e digo, insetos tem sua utilidade, né!?Mas eu não tinha nenhuma utilidade, senão, me autodestruir. Sabem aquelas cartas bombas que vemos em filmes que o personagem abre e depois de lê-la ela emite a frase “esta caixa se autodestruirá em 10 segundos, 09, 08, 07, 06, 05, 04, 03, 02, 01.... BUMMM!”....eu era assim...e pior, comigo mesma!Senti-me um lixo, um verme que rastejava pela terra em busca de algo que pudesse terminar com sua própria existência. Algo que dava asco a mim mesmo...podre, pobre e pequeno!Aff....
            Eu nunca desejei cometer suicídio e julgava essa atitude um ato repugnante!Porem, eu fui suicida por metade de minha vida...e da maneira mais cruel. Tive de tomar atitudes e revirar meus pensamentos, sentimentos e meu passado. Mas quando resolvi olhar pra ele, eu vi um vazio imenso, um caminho escuro, sem linhas traçadas e nada escrito pra que eu pudesse me agarrar e tomar uma direção. Tudo estava errado, tudo estava confuso e obscuro. E foi ai que tive que me defrontar com meu mais negro sentimento e acontecimento;

.... o dia em que resolvi deixar de amar meu pai!

quinta-feira, 18 de outubro de 2012






                                       CAPITULO V

            Eles formavam um casal alegre, descontraído e feliz. Gostavam de reunir amigos, a família e tudo era um motivo de comemorar, beber e dar boas risadas. Passavam dias inteiros, senão noites com o pessoal, e tudo era muito divertido viajávamos muito pra diversos lugares, Ubatuba, São Sebastião, Parati, Mira Estrela, Cardoso, Minas e tantos outros lugares. Mas os lugares que mais íamos era São Sebastião quando pequenos, Ubatuba, e numa dessas idas e voltas, fomos conhecer um parque que tem em Parati, onde tinham animais soltos e você podia andar por lá livremente. Nesse dia, no caminho pra lá, meu pai tinha o habito de andar com o braço pendurado pra fora da porta do carro, e na estrada, havia um monte de estrume de vaca que ele passou com o carro em cima e a pressão fez com que o estrume espirrasse todo no braço dele, o que nos fez rir muito. Ele sempre levava ou convidava nossos tios e tias, e acabávamos sempre viajando em companhia de nossos primos, o que pra nós era o máximo. Eram dias inteiros na praia, com as regalias que o lugar nos oferecia e em casa, sempre pratos gostosos e mais festa. Mira Estrela e Cardoso também eram uns lugares aonde íamos com certa frequência e lá, sempre com nossas famílias reunidas, eles compravam carneiros, porcos e abatiam lá mesmo pra realizar grandes churrascos. Numa dessas viagens a Mira Estrela, e quando cito Mira Estrela, cito automaticamente Cardoso, já que estas eram cidades vizinhas, separadas somente por uma estrada de terra de 11 kilômetros, e como eles precisavam de isca pra pescar, atravessávamos o rio pra passar a rede do outro lado da margem, onde pegávamos pequenos peixinhos, e em uma ocasião meu pai foi e levou todas as crianças pequenas, pois adorávamos quando podíamos dar uma volta de barco. Mas enquanto estávamos lá, o tempo começou a virar rapidamente e meu pai nos apressou senão não passaríamos pro outro lado com tranquilidade, porem não foi possível a travessia tranquila, já que o tempo rapidamente se tornou agressivo e os ventos com a chuva, dificultou em tudo nossa travessia. Todos sem coletes salva vidas e o barco batia querendo virar, eu na popa do barco pra equilibrar o peso, não facilitando a virada do barco, e a chuva enchendo de água o barco, e todos, ate mesmo meu pai, nervosos e com medo. Correu tudo bem, sempre com a Grandeza de nosso Deus Criador, mas foi uma experiência um tanto inesquecível. Meu pai tivera uma moto em nossa infância também que me lembra do quanto corríamos com ela, pois era uma CB 450 e na época era uma moto potente e linda, pois era vermelha e bem preservada, e meu pai me levava pra andar nela e ele corria muito, coisa que eu gostava e me falavam, quando atingíamos velocidade superior a 100 km e nos divertíamos com aquele perigo. Aos Sábados, minha mãe sempre ia à missa, habito que ela sempre cultivou em nossos corações, ensinando-nos sempre a crer em Deus e na fé Católica, e íamos todos com ela, eu e meus irmãos, e cada um reagiam a sua forma, pois Marcelo quando alcançara uma determinada idade já não nos acompanhava com frequência por não ter mais vontade de ir, já minha irmã sempre fora muito religiosa e tivera ate um fato, quando em recuperação de uma queda, a primeira coisa que ela quis fazer foi ir à missa e no termino dela, aproximou-se de uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, de onde, voltou com os olhos em abundantes lagrimas, que fez minha mãe se surpreender e questiona-la o porquê do choro, onde que ela respondeu com toda pureza de uma criança e fé iluminada, que ela havia visto Nossa Senhora Sorrir pra ela...! Eu, quando pequena geralmente me recostava no banco da igreja pra apreciar as pinturas que tinham no teto da igreja Matriz de Santo Antonio, pois era uma igreja linda e com sua construção elegante e monumental. Acabava por adormecer ali, no banco e com a cabeça apoiada no encosto acordando somente no final da missa. Nas saídas, minha mãe sempre deixa-nos ir ate o Padre Constantino pedir-lhe a comunhão, e como bom homem que sempre fora, nos elogiava pela vontade precoce do querer a hóstia consagrada e nos dava uma cada uma sem consagração, já que não se passava ali, de alimentar nosso desejo infantil e puro da comunhão fazendo-nos as crianças mais felizes do mundo. E no final de tudo, já que meu pai nos levava e ficava em algum bar esperando dar hora de ir nos buscar, minha mãe nos liberava um pouco antes dele chegar, pois não podíamos deixa-lo esperar nem um minuto, pois isso o irritava tremendamente. Corríamos pegar alguns pedaços de papelão que já levávamos com essa intenção, ou encontrávamos por lá mesmo sempre algum perdido e corríamos escorregar na grama da igreja, que era rodeada de um jardim com sua arquitetura desnivelada e algumas quedas forradas de grama que nos proporcionavam deliciosos lugares onde sentávamos em cima do papelão e descíamos com toda velocidade grama abaixo, o que fazia sempre o padre Constantino fosse ate nos e dissesse “crianças, não pode escorregar na grama...”, coisa que não levávamos em consideração. Após as missas sempre íamos à casa de alguém ou em algum restaurante, dando-nos sempre uma vida luxuosa, farta e feliz, só não pelo ciúme compulsivo e com a colaboração da bebida que transformava Cláudio em um homem agressivo e sem controle. As brigas começaram a ocorrer já no namoro, porem o amor sempre foi maior. A mãe de Fátima, Ophélia, chegou a se opor ao seu casamento, mas Fátima o amava demais. As brigas começaram a se tornar continuas e mais intensas, e toda festa acabava em violência. Não existiam motivos reais, aos olhos de quem estava de fora, porem a bebida faz coisas na cabeça de um homem que ate mesmo Deus duvida! Fátima não era um a pessoa que abaixava a cabeça e aceitava as ofensas, ela argumentava e se defendia, o que fazia com que ele ficasse ainda mais explosivo e agressivo. Seus três filhos acompanhavam tudo ao lado, quando pequenos, não sabiam como reagir e assistiam tudo como se estivessem numa arquibancada de circo e o show, eram seus pais se agredindo! Com o crescimento de cada um, eles começaram a reagir de formas diversas, cada um a sua maneira tentava proteger a mãe das agressões e ate mesmo de seus próprios medos, pois era assustador pra eles verem tamanha violência entre as pessoas que mais amavam. Havia vezes que eles chamavam seus tios, ou vizinhos e pediam ajuda, e assim, acabavam por envolver mais pessoas e toda situação se tornava ainda mais constrangedora pra ambos. Mas eram crianças e estavam com medo, pois seus pais eram tudo o que tinham. Fátima sempre fora cautelosa em relação ao amor e admiração que seus filhos tinham pelo pai, e todo final de briga ela tentava amenizar a situação e fazia-nos crer que a culpa era dela, ou que nada havia de errado e já tinha terminado. E nas manhãs seguintes, tudo se resolvia com um pedido de desculpas, um papo, um passeio, um almoço.. e tudo voltava ao seu ciclo normal, bebidas, festas e diversão... até que as brigas iniciassem novamente e tudo voltava a se repetir, mais e mais.... e cada vez mais violência e cada vez mais sofrimento, e as crianças foram crescendo e se tornando vitimas de tamanho sofrimento vivido em sua família. Marcelo sempre foi sensato e pedia, falava e tentava de muitas maneiras amenizar a situação, mesmo que sem sucesso, e houve vezes em que ele já crescido, se metia e apanhava e tentava bater em seu pai, pra tentar parar com a violência. Andréa já era pura explosão de sentimentos, chorava, gritava e pedia pelo amor de Deus para pararem... ela acreditava muito no pai e sempre tinha forças pra conversar com ele mesmo com tanto medo e violência, tentando convencê-lo de que não era assim que devia ser. Tinha vezes em que ela se desesperava tanto que desmaiava, e assim, a briga era finalizada temporariamente, e penso ate que estes desmaios eram propositais e ou psicológico, pois era uma forma que ela sabia de finalizar a briga... Era fantástico como ela acreditava que conseguiria, pois nunca desistiu. Eu, a mais nova, sempre fui movida pelo medo, e esse sentimento se tornava tão grande dentro de mim que sentia dores de barriga a cada sinal de perigo. Sempre me dava esse medo e a primeira coisa que eu fazia era me sentar num canto qualquer pra me sentir um pouco mais segura. Mas eu também fui crescendo e aprendendo o querer proteger, e me metia na briga e com minha adolescência chegando, passei a ofender meu pai, a proteger minha mãe e a me envolver com mais intensidade nas brigas. No fim, eram os três filhos no meio daquelas brigas sem fim, diárias e violentas. Fátima começou a contar mais com seus filhos e já não mais conseguia esconder seu sofrimento e suas dores e medos... às vezes ela se entregava a presença dos filhos e com eles chorava e se lamentava por tudo. Haviam vezes que essas brigas saiam mesmo quando haviam pessoas em casa ainda e não somente uma, mas diversas vezes pegava eles no banheiro com meu pai já a agredindo, e eles saiam como se fosse possível, nada tivesse acontecido, ate que todos fossem embora e eles pudessem “terminar” a briga. Essas brigas aconteceram muitas vezes no caminho pra casa, quando retornávamos de algum lugar, meu pai já começava com suas discussões no próprio carro e eles brigavam tentavam se agredir e colocavam em risco nossas vidas e de terceiros, vezes ate em que ele muitas vezes parava o carro pra bater nela ou manda-la descer do carro, acusando-a sempre de algo que ela cometia de errado na cabeça dele, quando não, ele se irritava com alguma manobra errada que algum motorista fazia em sua frente e arrumava confusão com pessoas que ele sequer sabia quem eram. Houve uma vez em que meu pai irritado com um motorista de ônibus, parara o carro na frente do ônibus, de forma que não permitia sua passagem e desceu do carro pra enfrentar o motorista que nem sabia o que estava acontecendo, e o fato de seus filhos, sua família estar no carro correndo perigo e se expondo ao ridículo juntamente com ele, não o impediam de cometer loucuras desse tipo. Numa dessas discussões absurdas com terceiros, ele arrumou encrenca com um cara de um fusca azul que nos seguiu até em casa, parando seu carro na porta, desceu armado e ficou la chamando meu pai; naquele momento ele se dera conta da gravidade de suas atitudes e o risco que se colocara e sua família, e reconhecendo isso, naquele dia, ele covardemente se escondeu dentro de casa, tentando ignorar a ameaça que lhe fazia aquele rapaz ate que ele se cansasse e fosse embora, que foi o que ocorreu. As agressões cometidas pelo meu pai contra minha mãe eram de fator grave, e infinitas foram às vezes em que eu e meus irmãos precisávamos salvar minha mãe, e algumas, salva-la da morte. Ele não parecia ter noção de sua força e de que a pessoa que estava a sua frente era sua esposa e mãe de seus filhos. Ele batia nela como um lutador de boxe bate em seu adversário, como se brigam dois homens em uma briga de rua.  Ele batia de mão fechada em sua cara e a jogava longe, contra a parede, pelo cabelo, da forma que ele precisasse, ele a pegava e batia. Existia um ódio nesses momentos que me paralisava, me dava pânico e ódio ao mesmo tempo. O olhar que ele tinha nesses momentos era como de um ser maléfico, cheio de ódio, ele se transformava de tal forma que, hoje penso que ele mesmo não sabia o que era aquilo, que força ou ser era aquele que o tomava e levava-o a fazer tudo aquilo. Houve, vezes em que se não chegássemos a tempo, ele a teria matado, e as cenas eram das mais deploráveis possíveis, algo de nos tomar de choque e medo, transformados pelo que assistíamos e presenciávamos. Quando saiamos pra alguma festinha ou quermesse, saiamos já com o medo do que poderia acontecer e eram raras às vezes em que saiamos sem essa preocupação, em nos existia algo, um sentimento ou uma intuição que nos acionava em determinados momentos que nos apressava a voltar pra casa e em todas essas vezes, chegamos em momentos críticos em que se não fosse nossa presença, teria sido o fim definitivo de todos nós. Muitas vezes nos revezávamos e se dois de nós saiamos, um ficava, mais entre eu e minha irmã ocorria esse rodízio. Minha mãe sempre ficava com hematomas terríveis em seu corpo e não somente uma vez, precisamos correr com ela pra um hospital. Uma vez, mesmo contra a vontade de meus irmãos, pois tentávamos não chegar a tal ponto, porem às vezes foi preciso chamar a policia, e em uma das vezes, creio que a primeira, fui eu quem o fiz, e chegando lá, os policias foram atendidos por mim que expliquei o que ocorria e pedi que entrassem senão ele a mataria. Porem, os policias, de forma tremendamente fria, me informaram que o fato de eu ser menor de idade, por volta de 10 anos, 11 anos.. eles não podiam entrar sem a autorização de um maior, que eram meu pais ...Como???disse aos gritos, meu pai esta matando minha mãe e vocês nada podem fazer??Vão ficar aqui, assistindo de camarote???....mas nada mudou o destino daquela noite, que era mais uma vez minha mãe ser gravemente ferida naquela briga cheia de ódio e tão vazia de razão. Em outras oportunidades, em que policia foi envolvida, tivemos que acompanhar minha mãe ate um hospital, onde se realizara exame de corpo delito e depois, seguir ate a delegacia, onde se prestava queixa, uma humilhação atrás da outra, pois de nada resolvia, mesmo com queixa prestada, ate mesmo na delegacia da mulher, o que inclusive se faz muita propaganda e campanha de que devemos denunciar a violência no lar e a delegacia da mulher seria um órgão que deveria servir de proteção e apoio a esse tipo de incidentes, mas confesso que de nada resolveu às vezes em que procuramos a policia e a delegacia da mulher, senão pra nossa própria humilhação de ter de se expor pra terceiros, em meio a um ambiente frio e irrelevante em circunstancias que dependíamos muito de sua ação. Essa foi nossa rotina de vida por mais de 20 anos de nossas vidas, e dizer que melhorava ou piorava.... torna-se algo meio que impossível, pois o cansaço e desilusão se tornara companheiro de nossos dias e esperança, era uma palavra distante de nosso dicionário. Fé...mesmo com os ensinamentos que minha mãe nos passava e cultivava em nossos corações, sempre nos incentivando a participar da comunidade e de suas obrigações, que era o catecismo, crisma e ate mesmo, nos envolvemos em dar aulas na comunidade por vários anos, mas isso não era o suficiente pra termos fé naquilo que mais nos sufocava e fazia sofrer. Lembro-me de ser uma pessoa que não perdia uma oportunidade sequer de desabafar e chorar com que se mostrava amigo e cúmplice de minhas dores e medos. E creio que meus irmãos também o fizeram em suas vidas que de nada fora diferente da minha, a não ser pela índole e ego de cada um, criando assim, nossas personalidades. Nossos familiares eram muito próximos de nos ate um tempo, em que tudo era festa e as coisas controladas, mas repetidos constrangimentos que passavam com toda essa situação os levaram a se afastar e o não querer da parte de minha mãe o divorcio, fez dela a mais errada de tudo aquilo, pois eles não aceitavam que ela concordasse continuar com aquele cenário de vida. Mas a questão não era concordar ou não, pois eu também julguei minha mãe e meu pai por tudo, sofrendo e criando barreiras que jamais conseguiria derrubar num futuro próximo de minha vida e de nada resolveria, pois a questão seria tão individual de cada um dos dois, que penso ate ser espiritual. Era por amor, era por medo do mundo que teria de enfrentar com seus filhos, era por medo do próprio marido e ate mesmo por esperança que ela não o fazia e ele, talvez fosse guiado tão cegamente por forças maiores que se permitiam toma-lo nos momentos em que bebia e se tornava vulnerável, que em sua cegueira e orgulho, não percebera que aquilo tudo não era ele, e sim, algo que o fazia sofrer tanto quanto nos, sua família. Não era jamais uma questão de julgarmos ou apontarmos um ou outro...como todos o fizemos, e sim, de tentar se colocar no lugar de um e de outro, e tentar ter compaixão por cada atitude, por cada ser e coração que ali se autodestruía. É o que sinto hoje...uma cumplicidade maior me faz ter compaixão por ambos e me coloco no lugar de cada um, e confesso não saber qual dos dois sofreu mais e qual dos dois errou mais, pois havia somente uma meta ali, naqueles corações despedaçados...AMOR! O fato caro leitor, é que aquela união caminhava a cada vez mais para seu fim e Cláudio nunca admitira que a bebida fosse o fator predominante nessas brigas. Ele a amava com seu mais profundo amor, isso era fato, porém não percebia que algo o estava levando ao caótico fim de seu casamento. Ele era orgulhoso, forte, determinado, e tinha um coração sem tamanho quando o assunto era ajudar alguém que conhecia , ou de nossa família...era um bom homem, trabalhador, alegre e inteligente, porém, a bebida o transformava num homem que, creio eu, nem ele conhecia e sabia lhe dar! O pobre era influenciado ou se deixava levar pelo vicio que não era notado, e aos poucos ele ia se perdendo e perdendo os que mais amava. Os filhos foram crescendo, e com eles, cresciam as maneiras individuais de cada um de sobreviver com essa relação tão tortuosa, e Marcelo já se envolvia mais com o trabalho, os estudos e quando começou a namorar Elisa, ele se dedicava somente a isso, não mais se permitindo ter tempo pra família e sua convivência. Pensávamos que ele não se importava conosco e com nosso sofrimento, porem , hoje, penso que esta foi a saída que ele achou em seu caminho pra que não sofresse tanto, já que nós pouco podíamos fazer pra resolver algo entre nossos pais. Andréa sempre foi de ter muitas amizades e nosso ponto de encontro era na frente de nossa casa mesmo, já que morávamos em frente a uma praça onde todos se encontravam e se tornou o point da moçada. E mesmo namorando serio e apaixonada, ela quase não saía de casa, pois tinha medo de que nosso pai brigasse com nossa mãe e ela estivesse sozinha, como se protegeria? Seu namorado concordava com isso, já que estava com ela por amor, mas isso custou a relação deles e ela também foi se desgastando emocionalmente e criando suas maneiras de responder ao seu sofrimento interno, e acabava sendo expressiva e extrema em suas atitudes e palavras, e também entendo que tudo que ela fez e a forma, era seu jeito de expor e sobreviver ao sofrimento que passava por dentro com tudo aquilo. Mesmo amando demais o pai, e mesmo contudo o que ele fazia, ela nunca deixou de admira-lo e ama-lo com toda sua força. E eu, passei a viver minha adolescência em meio aos meus amigos e nas farras de nossa idade, e aos poucos mesmo me envolvendo demais nas brigas, fui me educando a sair antes das brigas começarem e chegar somente quando eles já estivessem dormindo, assim, eu me poupava daquilo tudo e sofria menos...pelo menos era o que eu queria acreditar!Nesta jornada, todos sofreram demais...o casamento foi à falência e parte de nossas vidas também, porem, como não conhecemos os desígnios de Deus e do destino, cada um fez seu caminho a sua maneira, e todos, acreditem...todos aprenderam demais!


            Penso; “Como Viver a Vida em Termos de Esperança...".
                           E que Palavra é essa...Que a Vida não Alcança...?!”