CAPITULO VII
Quando eu era pequena,
eu amava demais meu pai, eu era o moleque da casa, e no lugar de meu irmão, eu
fazia às vezes do filho que adorava acompanhar o pai em tudo. E ele se orgulhava
disso também, me levando a todos os lugares e me apresentando com todo orgulho
aos amigos. Tudo o que eu queria ele me dava e fazia, uma vez, por nos irmos
muito a sítios, eu inventei que queria um cavalo, pois eu só podia andar quando
íamos a alguns sítios de finais de semana, e já que ele sabia que eu adorava,
ele comprou uma égua pra mim!! Coloquei o nome dela de Charlotte, e ela era
linda, eu quase morri de alegria. Meu pai era demais comigo! Claro, Charlotte
nos proporcionou um pouco de tudo, pois ela não um animal muito adestrado e pra
ela fazer aquilo que eu queria, que era andar e passear comigo, eu teria que
chicoteá-la e, isso pra mim é o fim, pois eu amo animais e se você quiser um
dia brigar comigo, maltrate um animal na minha frente. Com isso, Charlotte não
andava de jeito nenhum, e teve uma até uma vez que eu e meu primo fomos ate
onde Charlotte ficava e com a sela nas costas, né, pois íamos a pé, e chegando
la, nem conseguimos sela-la, pois ficamos com receio, já que eu nunca o tinha
feito sozinha, ai depois de muito se divertir com nossa idiotice, volta os dois
burros com a sela nas costas pra casa!risos..
Teve uma Festa do Peão em Americana, que ainda é tradicional na cidade,
e eu inventei de que iria ao desfile de cavaleiros com a Charlotte, e lá vai
meu pai combinar com seu amigo de que eu iria com ele, pois ele poderia me
ajudar no caso de algum imprevisto. Meu pai iria nos acompanhar com o carro. No
caminho onde havíamos marcado encontrar com outros cavaleiros, havia uma
ladeira e foi descendo essa ladeira que a Charlotte escorregou e foram as duas
para o chão... eu e a égua! Ela caiu em cima de minha perna, porem não
machucou, apenas ficou dolorida, e Charlotte graças a Deus, estava bem, mas,
eu, com meu coração todo compadecido por ela ter caído e talvez estivesse com
dor...não quis mais ir ao Desfile. Meu pai ate insistiu mas acabou por concordar
e voltar pra casa. Mas eu não iria montada, pois coitada da Charlotte, me levar
ainda pra casa no lombo, depois de tal queda...?Jamais eu disse a meu pai! Pois
eu fiz meu pai ir devagarzinho com o carro e com o bração pra fora puxando a
Charlotte pela corda ate em casa!! Ele no mínimo quis me matar. Teve uma outra
oportunidade em que eu estava indo pra casa com Charlotte e era uma distancia
considerável e no meio do caminho, meu pai atrás com o carro, ela empacou. Não
havia meios de ela andar, e meu gritando la do carro; bate nela Claudinha!!
Eu...Claudia Casati Mantovani....batendo na minha éguinha??? Ahahaha...ele
desceu do carro bravo e disse, leva o carro que eu vou levar a égua! Meu pai
era um homem de 120 kilos naquela época e a cena dele na égua foi no mínimo um
tanto divertida, e onde morávamos todos, absolutamente todos nos conheciam por
nosso próprio pai. Os caras gritavam assim pra ele; Vai matar a égua
Claudião!!!....
Nem vou dizer que daquele dia em diante, nos decidimos por forças
maiores, vender Charlotte! Meu pai e eu...bem, ele quase me matou de novo!
Risos
Como ele era cliente assíduo de bares, eu sempre tava com ele e no meio
de todos os seus amigos. E desde pequena eu bebericava suas bebidas e eles se
divertiam vendo que eu gostava. E sabem, naquela época, eu achava horrível,
pois cerveja era amarga, pinga era o cão de ruim...mas como eles riam, e ele
mais ainda, e eu percebia um certo orgulho nos olhos dele, eu bebia mesmo. Isso
em custou caro quando eu cheguei à adolescência, fato que comentarei mais
adiante. Eu ate banho tomava com meu pai quando era criança...tamanha era nossa
relação. Ele era meu ídolo e eu, sua fã numero um.Ele era um cara que brigava
com minha mãe quando ela ia fazer compra e gastava demais, sendo que ela só
tinha comprado o básico, e aos sábados ele ia ao mercado e comprava só o
supérfluo tipo, bebidas, latarias, frios e carnes...e gastava mais do que minha
mãe em um mês de alimentos! Mas ainda assim, era minha mãe que gastava demais
na opinião dele. Eles nos acostumaram muito mal em termos de alimentação, pois
tínhamos do bom e do melhor, palmito era uma coisa que todo mundo ama em casa
pois sempre tinha. Uma vez ele chegou com um vidrão de palmito, tipo de Itu
mesmo, sabem...e outra vez ele chegou com um pra cada de nós! Nossa, éramos
ricos, muito ricos em alimentação, saúde e caráter. Carne em casa era um
freezer ate a porta, sempre cheio, ele ia e matava um boi com alguns amigos e
um quarto era nosso. Peixe...meu pai gostava muito de pescar e pelo menos três
vezes por ano ele ia pescar pra longe e ficava 20 dias fora. Trazia caixas e
mais caixas de isopor com peixes enormes, pintados, ate jacaré ele trouxe!Eles
viajavam numa caminhonete e levavam ate freezer pra trazer os peixes. Ele amava
pescar! Viajávamos sempre para praias e ficávamos 15 dias, íamos pra Cardoso,
interior de São Paulo e ficávamos mais 20 dias lá. Ele nunca poupou esforços
pra nos dar uma vida com luxo e regalias. Nos dias de hoje, se eu pedisse grana
pra ele pra sair, ele ma daria 50 reais e amanha, novamente, era uma vida boa e
muito bem aproveitada.Em uma de nossas viagens pra Cardoso, ele levava seu
barco e motor, e ia pescar no meio do rio, pois haviam galhos de arvores pra
fora da água que os pescadores ancoravam seus barcos pra pescar, e era o ponto
do peixe, pois era bem ao meio do rio, fora da correnteza, o Rio Grande, e
ficávamos bem na divisa de Minas Gerais e São Paulo, permitindo-nos ver todo um
horizonte de água e verdes. Era lindo e tranquilo, adorávamos ir pra la, e eu
principalmente, pois eu amava pescar e meu pai me lavava no barco com ele, e um
dia, levantamos cedo, ainda eram 6 da manhã e lá fomos nós para o rio pescar,
só eu e ele. Ficamos lá o dia todo e quando precisávamos fazer um xixi básico,
pulávamos na água... e depois voltávamos para o barco. Isso numa profundidade
de mais ou menos 18 metros. Mas ele confiava em mim, e nele também, e quando
chegaram outros pescadores, uma família de uma cidade próxima a nossa, eles
ficavam estupefatos de nos ver ali, desde cedo, com o barco cheio de corvinas e
toda hora pulando na água pra mija!risos...Voltamos nesse dia somente quando o
sol estava se pondo. Eram maravilhosos meus dias com meu pai, eu o amava tanto,
nos dávamos tão bem. Só tinha uma coisa que me incomodava nisso tudo; ele sempre
rotulava seus três filhos, sendo o Marcelo o filho inteligente; a Andréa a
filha mais linda; e eu...a tranqueira!
Isso me incomodava muito e como sempre ouvi isso, fui aceitando e vestindo esse
rotulo de incapaz, feia e tranqueira. Hoje sei que não era no mal sentido que
ele usava suas palavras, na verdade, hoje sei que ele queria dizer que eu era
igualzinha a ele. Mas eu não sabia e fui consentindo que meu ego se afundasse
nessa crença!Uma noite fomos num restaurante, como na maioria dos Sábados acontecia,
e na volta, ele estava bem alterado e “simpático” na bebida e minha mãe na onda
dele também, e eu pedi pra vir dirigindo, o que sempre acontecia, eu era
novinha, mas desde os 11 anos eu fazia isso e eles sabiam que eu me dava bem no
volante e adorava quando eles me deixavam fazer isso. No caminho pra casa,
demos de cara com um comando da PM e nossa, foi um pânico, pois já não era mais
possível desviar, e muito menos trocar de motorista, já que estávamos a menos
de 100 metros deles. Meu disse assim; “Vai Inha,(era assim que minha família me
chama), segue como se nada tivesse acontecido”...como??...eu estava com medo,
porem, segui e os guardas chegaram a abaixar a cabeça pra dar uma olhada em
mim, e viram meu pai, minha mãe e meus irmãos todos nos carro, mas eu era a
criança do carro e tava no volante! Mas, não sei se na boa fé, pois pode ter
percebido que não era nada demais e ou que meu pai tava meio alterado, mas os
guardas nem pararam nosso carro! Foi muito bom!Ah, quase me esqueço, quando eu
tinha uns 10 anos, meu pai nos deu uma Mobillete, aquelas motinhas bem
vagabundas que antigamente era como motos...e nossa, eu e meus irmãos andávamos
o dia todo, pois em frente de casa, antes de ser uma praça, era um campo de
terra e não tinha nada...dividíamos assim, cada um dava três voltas na quadra e
ai, era a vez do outro. E quando os três já haviam andado começava novamente no
outro. Só parávamos pra por gasolina que ficava num galão nos nossos pés mesmo,
la na rua. Hoje penso em como os vizinhos daquela quadra não devem ter
sofrido...Mas o fato é que era uma delicia e nos passávamos o dia lá nos
divertindo. Teve um dia, claro, sempre comigo que acontecia os fatos mais
hilários, senão, chocantes...eu sai de casa pra atravessar a rua e andar no
campo que ficávamos em frente de casa, e como eu nuca fazia isso, sempre eram
meus irmãos, naquele dia eu quis sair eu com a Mobillete, e não deu muito
certo, pois bem na hora que eu desci da calçada de casa pra passar a rua, eu
olhei bem em minha frente e estava uma vizinha minha lá do outro lado onde eu
subir. Eu me desesperei, sei lá por que, talvez por que eu era uma apenas uma
criança, e em vez de parar e esperar, eu acelerei ainda mais!! Acabei que
atropelei a mulher, claro, nada grave, só pegou a perna dela, mas pultz, que
susto, e claro, eu fui pro chão e levei o maior fumo de meus irmãos e depois
de meus pais...Enquanto isso na escola,
eu tinha dificuldades que já mostravam que aquela vida um tanto atormentada,
refletia em tudo e todos, e tive problemas que me levaram a desgostar cada vez
mais de estudar. Tive uma,professora que se chamava Walquiria, uma senhora de
idade já avançada e que sofri de problemas de audição. Ela tinha o péssimo
habito de bater nos alunos com uma régua de madeira daquelas de 60 centímetros e às
vezes ate lançava o apagador na cabeça de um. O fato e que ela resolveu usar de
seus métodos em mim e me bateu com a régua, o que me fez levantar imediatamente
de minha carteira escolar e me dirigir ate a diretoria. Eu tinha apenas oito
anos e cursava ainda a dois serie, o que não me impediu de ir reclamar meus
direitos, pois eu já era uma criança que em mim predominava a bandeira do
“basta à agressão por tudo o que vivia em família, e ainda teria de suportar
uma atitude monstruosa em minha opinião de uma pessoa estranha que, nenhum
direito exercia sobre mim, senão o de me passar uma educação literária e por
que não dizer, ate mesmo de postura ética e humanitária, já que educação é um
doas passos mais importantes na vida de um cidadão...A diretora não desconfiara
de mim quando relatei os fatos e não me proibiu de ir embora naquele dia mais
cedo pra casa, pois me recusei a voltar na mesma sala com aquela pessoa que me
agredira sem pensar em seus atos. Chegando em casa relatei o ocorrido a minha
mãe que se tornou uma fera, como onça defendendo a cria e no dia seguinte,
seguiu comigo pra escola, decidida a tirar tudo a limpo com a direção e a
professora. Isso mais uma vez me custou caro na vida, pois chegando lá, a
diretora nos acompanhou ate minha sala de aula onde conversando com a tal
professora na porta desta, ela se virou pra todos os alunos de minha sala e
perguntou em voz de indignação a todos os presentes; Imagina, algum dia aqui eu
bati ou gritei com algum de vocês nessa sala de aula??”, no que todos, com medo
de buscar suas dignidades talvez ate mesmo pelo fato de não serem criados e
educados pelas suas famílias de forma que devessem sim se expressar e estar
sempre do lado justo da vida, todos recusaram o direito legitimo de
autoproteção e negaram todos que um dia, aquela mulher havia feito algo de
irregular que fosse contras ate as leis da natureza. Naquele momento ela se
virou pra mim e pra minha mãe dizendo que eu não era uma de suas melhores
alunas que ela deveria pensar em uma possível indicação pra uma classe especial
pra mim, onde estudavam crianças com dificuldades mentais de aprendizados.
Queria afundar sob aquele chão e nunca mais sair de lá, o que me impediu ainda
mais de ser tudo o que poderia ser uma criança em seu aprendizado e ciclo
normal de vida. No prezinho também, tive alguns problemas a enfrentar, não com
a professora, mas com meu medo de ficar sem minha mãe e já que minha avó morava
a uns 40 metros dali, eu fugia de vez em quando pra casa dela, alegando que não
tinha mais aula, coisa que ela sabia muito bem lhe dar e acabava por me
convencer a voltar. Mas tinha lá um cidadãozinho, cujos cabelos eram ruivos e
ele todo sardentinho, que nos primeiros dias de aula a mãe dele tinha que
assistir junto dele, pois ele não ficava sem a presença da mãe um segundo
sequer de seus dias. E foi comigo que ele, criança esta que não consigo em
recordar seu nome, acabou se deixando levar pra uma amizade que eu jamais
esqueci, e espero do fundo de meu coração que este menino se lembre de mim o
quanto me lembro dele. Pois foi comigo que ele começara a sentar e tentar um
meio de proximidade e comunicação, e com isso, sua mãe aproveitava sua
distração e seguia pra sua casa, saindo escondida dele sempre, ate que ele
percebia e começava a chorar, mas nossa amizade começava a se concretizar
nesses momentos, onde com a ajuda da nossa professora, ele se entregava as
brincadeiras e tarefas que nos eram passados e se envolvia comigo nestes.
Envolvimento tamanho, que eu ia ao banheiro, ele me acompanhava ate a porta,
não entrando por que era proibido, senão o faria com certeza. E quando era a
vez dele ir ao banheiro, era minha vez de acompanha-lo, pois sozinho ele não
ia. Tudo o que você imaginar que se pudesse fazer num pré, nada ele fazia se
não fosse ao meu lado. Na dança da quadrilha de São João todos escolhiam seu
par e eu cultivava o sonho de escolher o Fabinho, que era um menino do qual eu
gostava muito e adoraria dançar com ele, porem, eu não tive a chance de
escolher nenhum, pois meu par já estivera formado desde que aquele sujeitinho grudento
(risos) me escolhera como sua companheira de tudo ali. Mas não me queixo não,
lembro-me dele e dos fatos com saudades e pra sempre vou tê-lo registrado em
minha memória e coração, e também em minhas fotos que registraram pra sempre
este nosso momento. O meu pré-escola foi-me uma historia que nunca me esqueço,
pois tínhamos a Tia Jura que era a cozinheira e fazia um peixe em molho uma vez
na semana que ate hoje me lembro e sinto água na boca, e nunca comi algo que
chegasse aos pés daquele prato maravilhoso, fora que a Tia Jura era nossa mãe
lá, pro nossos medos, nossos receios e era demasiadamente doce aquela mulher!
Nessa mesma época, meu tio Vladimir morou uns tempos em minha casa, pois havia
montado um açougue em Americana e minha tia e primos juntamente dele moravam em São Bernardo do
Campo, onde ficaram toda a vida. Meu tio ia pra lá aos fins de semana e durante
a semana, meu pai me levava ao pré e meu tio me buscava, já que seu açougue era
próximo dali. Sendo assim, eu que sempre fui muito apegada aos meus tios, tias
e primos, em minha cabecinha de leão, tamanho era meu raciocínio emocional,
queria almoçar um pouco com minha vozinha Ophelia que tanto amava, junto de
minha tia Regina que depois do almoço sempre jogava dominó comigo ate que meu
tio chegasse e não poderia deixar de comer um pouco com meu tio, pois eu o
amava de paixão, pois ele era o cara que sempre brincava com a gente em tudo
durante sua estadia em casa. Então, eu almoçava um pouco com minha avó e tia, e
um pouco com meu tio em casa, e acreditem , eu tinha essa disposição
diária... já que minha preocupação era
em dividir minhas atenções entre aquelas pessoas que eu tanto amava. Inclusive
o time que torcemos ate hoje, o Corinthians, foi a relação intima que tínhamos
com meu tio Vladimir, que também é corinthiano.
Eu sempre fui uma criança ativa e arteira
demais, e andava de skate e patins todos os dias, que me fazia ir ao chão
diariamente, numa dessas quedas fraturei a clavícula direita, mas em qual das
quedas que ocasionou eu nunca descobri, já em um tempo pequeno de dois dias eu
tive três quedas violentas, uma de patins, uma de skate e uma da rede na
chácara de meu tio, onde meu irmão me balançava e eu pedia com mais força e ele
me atendendo, em um determinado momento, a rede deu uma volta de 360 graus,e
claro, eu fui direto a solo, nocauteada!risos... Mas sempre tive muitos
ferimentos e adorava um curativo e ficar doente, pois assim, hoje eu sei, eu
tinha atenção, não que eu não tivesse, mas era uma forma que eu encontrara de
me expressar. Levei varias vezes alguns pontos da testa, já que eu teimava em
entrar de bicicleta na oficina do meu pai onde eu acaba por atropelar algumas
grades que caiam sobre mim, me ferindo.
E assim, foi parte de minha infância, o que
falarei mais em capítulos seguintes. O que me passa agora é que precisa ficar
claro que meu pai era o homem que eu mais amei nessa vida e era meu tudo
enquanto eu era apenas uma criança. E digo...foi uma boa amizade a nossa!!
O fato é que quando eu cheguei à ascendência
da infância pra adolescência, eu comecei me questionar por que meu pai era tão
especial comigo e na rua e em casa, ele batia em minha mãe e nos fazia sofrer
tanto??....
Resolvi perguntar pra
ele e assim o fiz;
“Pai, por que na rua e comigo você é tão bonzinho e em casa, você bate
na mãe ??”